A porno-Corinto.
Situada
no ístmo de mesmo nome, no sul da Grécia, Corinto era, no início do primeiro
século, a cidade mais antiga, mais importante, mais rica, mais comercialmente
próspera, mais populosa (250 mil habitantes) e mais obcecada por sexo da Europa
Oriental. Ali se realizavam os Jogos Ístmicos, quase tão importantes quanto os
Jogos Olímpicos, que eram mais antigos e surgiram em Olímpia, mais a oeste. Por
ser uma cidade portuária (um porto no mar Egeu e outro no mar Mediterrâneo) e o
elo entre Roma e o Oriente, Corinto abrigava uma grande mistura de raças,
línguas e culturas (gregos, latinos, sírios, asiáticos, egípcios e judeus), de
classes sociais (escravos e libertos, burgueses e pobres) e de profissões
(investidores, mercadores, ambulantes, marinheiros, filósofos, ex-soldados,
atletas e “promotores de todas as formas de vícios”).
Considerada
a capital da licenciosidade, Corinto era notável por sua independência moral. À
semelhança dos hebreus na época dos juízes, cada um fazia o que bem deseja (Jz 21.25). Não havia a quem
prestar contas nem leis para obedecer, senão a lei dos desejos. Os impulsos
sexuais eram um fenômeno biológico como a fome e, portanto, deveriam ser
satisfeitos.
Em
Corinto havia muitos templos. No templo dedicado a Afrodite, a deusa do amor (a
mesma Vênus dos romanos), havia mil prostitutos e prostitutas, que ofereciam
seus serviços ao pôr do sol. No templo dedicado a Apolo, o deus que
representava o ideal de beleza masculina, havia “estátuas de Apolo nu, em
diversas posturas, que exibiam sua virilidade, inflamavam seus adoradores
masculinos a prestarem devoção por meio de demonstrações físicas com os belos
rapazes a serviço da divindade” (David Prior, A Mensagem de 1 Coríntios). O problema das tais “imoralidades
sexuais” (1 Co 7.2) entre os coríntios era tal que um dos verbos gregos que
significava “fornicar” era “corintizar”, ou seja, viver uma vida coríntia.
Esse
descaso com a moral sexual vinha de longe. Demóstenes, o famoso orador grego
(384-322 a.C.), escreveu: “Temos amantes para nos regozijarmos com elas, depois
escravas compradas para cuidar de nossos corpos e, finalmente, esposas, que
devem conceder-nos filhos legítimos e estão encarregadas de supervisionar todos
os nossos misteres domiciliares”. Trezentos anos antes, na mesma época dos profetas
Daniel e Habacuque (600 a.C.), Safo, a não menos famosa poetisa grega, teria
levado várias jovens sob sua influência à prática do lesbianismo. Por essa
razão, e por viver em Metilene, capital da ilha grega de Lesbos, próxima ao
litoral da Turquia, chama-se lésbica (lésbia ou lesbiana) a mulher homossexual.
“Tanto no mundo grego como no mundo romano, a parceria homossexual entre um
homem mais velho e um jovem era considerada parte da educação do rapaz”, lembra
Amy Orr-Ewing no livro Por que Confiar na
Bília?.
Foi em
sua segunda grande viagem missionária que Paulo começou a evangelizar a cidade
de Corinto (51 d.C). Muitos convertidos renunciaram sua vida pregressa e
tornaram-se novas criaturas em Cristo (2 Co 5.17). Entre eles havia imorais,
adúlteros e homossexuais passivos e ativos, como vemos na Primeira Epístola de
Paulo aos Coríntios (6.9-11), escrita no ano 55. Para se referir aos
homossexuais ativos, o apóstolo usa a palavra grega arsenokoitai, aquele que toma a iniciativa, traduzida por sodomita
(por causa do que aconteceu em Sodoma, Gn 19). Para se referir aos homossexuais
passivos, usa a palavra grega malakoi,
aquele que se permite usar, traduzida também por efeminado. Para Calvino
(1509-1564), os malakoi são “aqueles
que, enquanto não podem tornar-se prostitutos publicamente, revelam quão impúdicos
são no emprego da linguagem ignóbil, no maneirismo e vestuário femininos, bem
como em outros meios de atrair a atenção”.
Esse
trecho da Carta de Paulo aos Coríntios é a melhor passagem das Escrituras para
mostrar a possibilidade de mudança de comportamento mediante uma experiência
autêntica de conversão, não importando o estilo de vida anterior.
Corinto
foi três vezes destruída: em 146 antes de Cristo pelos exércitos romanos, em
501 por um terremoto, e em 1858 por outro terremoto, bem mais devastador que o
primeiro. Hoje, Corinto não passa de uma aldeia.
Fonte: A Redação. Revista Ultimato, Ano XLIII, nr. 325, Julho-Agosto 2010, pg. 28-29, (Publicação da Editora
Ultimato)
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